“War of The Gods” Levará Teseu Para os Cinemas

Teseu e o Minotauro Parece que depois dos filmes de zumbis e os dos filmes de vampiros, a nova onda em Hollywood são os filmes baseados em mitologia grega, pois depois da adaptação cinematográfica de Percy Jackson e o Ladrão de Raios e do remake de Fúria de Titãs, vem aí War os The Gods, filme que pretende levar o herói Teseu para os cinemas. War of The Gods será dirigido pelo indiano Tarsem Singh (“A Cela”), e traz no elenco Henry Cavill (“Stardust”) como o herói Teseu e Freida Pinto (“Quem Quer Ser um Milionário”) como uma sacerdotisa que se une a Teseu. Boatos dizem que Mickey Rourke (que estará em Homem de Ferro 2) também fará parte do elenco desse filme, interpretando o Rei Hyperion. Pelo que vi na sinopse, War of The Gods não irá adaptar nenhum mito específico de Teseu, criando um enredo novo inspirado nos mitos do herói ateniense, filho do Rei Egeu. As filmagens começam em abril e o filme tem previsão de estreia para o começo de 2011.

O que é Mito? O que é Mitologia?

Mito e Mitologia Para poder responder a essas perguntas com precisão, devemos primeiramente abandonar o sentido que a palavra mito assumiu nos dias de hoje, como sendo uma história inventada, inverídica, uma mentira, para então podermos retomar o sentido original da palavra. Mito vem da palavra grega mythos (μῦθος) que pode ser traduzido como discurso ou narrativa. O mito é então simplesmente uma história narrada, indiferente do julgamento que façamos sobre ela de verdadeira ou falsa. Esse sentido original do mito está intimamente ligado a oralidade, vocalização, pois a grécia antiga do período homérico possuía uma cultura estritamente oral. Isso quer dizer que as histórias não eram escritas, mas eram passadas de geração a geração através do canto do aedo (ἀοιδός), que pode ser encarado como o bardo helênico. Aliás, aedo vem do verbo aidô (ᾄδω) que significa exatamente “cantar”. Homero, para algumas correntes históricas e literárias, seria um desses vários aedos que existiam no século IX a.C.. No entanto, há outras correntes que simplesmente descartam a existência de Homero, mas essa “questão homérica” ficará como assunto de um outro post. Mitologia é formado pelas palavras mythos e logos (λόγος). É interessante notar que nas poesias homéricas as duas palavras são tratadas como sinônimos, mas conforme avançamos para o período da grécia clássica no século V a.C., essa sinonímia vai se perdendo, ao ponto das duas palavras passarem a adotar sentidos opostos. Enquanto mythos passou para o campo semântico do “crer”, logos passou para o campo do “saber” e da “razão”. Mitologia então nada mais é do que o logos aplicado sobre o mythos, ou seja, uma “racionalização” e “sistematização” dos mitos. Então quando Hesíodo organizou em uma única obra, “Teogonia”, os diversos mitos gregos de origens diferentes e esparsas, dando assim uma unidade lógica a eles, estava exatamente criando uma mitologia grega. Essa racionalização dos mitos gregos que começa com Hesíodo no século VIII a.C. irá prosseguir com outros poetas, filósofos e pensadores pelos séculos seguintes, sendo que alguns tentavam historicizar os mitos, e outros procuravam uma interpretação alegórica para eles. O primeiro intérprete alegórico dos mitos gregos foi possivelmente Teógenes, de Régia, no século VI a.C. Ele tentava buscar dois tipos de alegoria nos mitos: a alegoria física, que interpretava as divindades como elementos da natureza, e a alegoria moral, que enxergava as ações dessas divindades como disposições da alma. Outros dois grandes nomes da corrente alegórica foram Plutarco, com seu “Ensaio sobre a Vida e a Poesia de Homero” e Heráclito, com sua obra “Problemas Homéricos Relativos às Alegorias de Homero sobre os Deuses”, ambos do século I d.C. Essa corrente de interpretação alegórica dos mitos irá perdurar por todos os estudiosos até o século XVIII, quando então o filósofo alemão Friedrich Schelling propõe em sua “Introdução a Filosofia da Mitologia” uma interpretação tautegórica dos mitos, e não mais alegórica. Isso quer dizer que os mitos deveriam ser analisados pelos seus significados próprios, internos, e não externos como fazem os alegóricos. Essa obra de Schelling se tornou a base para o desenvolvimento de uma nova corrente de analise dos mitos, a chamada corrente simbolista, que tem como um de seus principais representantes o também filósofo alemão Ernst Cassirer. Segundo Cassier, em seu livro “Filosofia das Formas Simbólicas”, o mito é algo concreto, pois está relacionado com conteúdos sensíveis através de imagens, existindo desta forma uma unidade entre o objeto e o conceito. A corrente simbólica se propõe então a descobrir a visão de mundo própria do pensamento mítico, e por conseguinte do homem mítico, que possui categorias de pensamento próprias e diferentes do pensamento racional. Uma outra corrente que surgiu em seqüência da simbolista foi a funcionalista, que diferente da corrente anterior, propunha uma análise do mito de forma mais prática e funcional, relacionando sempre o mito ao rito (ou vice-versa). Existem duas subdivisões nessa corrente, sendo que a primeira acredita que o rito é posterior ao mito, e portanto, um rito explicaria um mito. Já a segunda acredita que é o contrário, que o mito é que é posterior ao rito, e portanto, um mito serviria para organizar e explicar certa prática social que já acontecia. Alguns nomes da corrente funcionalista são Francis Cornford, James Frazer e Eric Havelock. Por fim, a última corrente que surgiu foi a estruturalista, criada em meados do século XX pelo antropólogo Claude Lévi-Strauss. A corrente estruturalista buscava a convergência do pensamento mítico ao racional. A idéia era perceber a lógica interna do mito através da redução da narrativa mítica a pequenas estruturas (os mitemas). Apesar de Lévi-Strauss ser o nome mais famoso dessa corrente, quem na verdade mais se destacou na analise estrutural do mito, sobretudo o grego, foi o historiador francês Jean-Pierre Vernant. Cada uma dessas correntes procura analisar os mitos sobre enfoques diferentes, sendo que cada uma tem suas vantagens e desvantagens particulares. Mas uma falha que todas essas correntes apresentam é o de tentar generalizar as suas interpretações teóricas a todos os mitos de todos os povos e culturas. Ainda que diferentes mitos de diferentes povos possam ter estruturas idênticas, como bem percebeu mitólogos como Joseph Campbell, um método de análise que se aplica bem a mitologia grega não necessariamente servirá também para a mitologia nórdica ou brasileira. Isso acontece porque dentro de uma mesma mitologia não existe apenas um mito de um determinado personagem ou acontecimento, mas vários, e cada um variando em pequenos detalhes um do outro. E para uma boa análise do mito, esses detalhes não podem ser deixados de lado. No que tange especificamente aos mitos gregos, tendemos a reconhecer como “o mito” aqueles que se tornaram cristalizados pelas obras literárias como a poesia épica ou a tragédia. Mas ainda que a tragédia “Édipo Tirano”, de Sófocles, seja uma excelente representação do mito de Édipo, ela é apenas mais uma dentre inúmeras versões desse mito, e que foram esquecidas ou se perderam na História. E não pense que a criação de mitos é apenas algo dos povos antigos e deixou de ser feita nos dias de hoje. Como eu já disse neste artigo sobre Heracles, um mito pode sobreviver além de seus povos de origem, e isso acontece justamente pela novas versões deles que vão surgindo, seja com a continuidade da narrativa oral que se transformam de geração para geração, seja com novas obras literárias que buscam um novo olhar sobre um certo mito ou até mesmo tentando recriá-lo completamente para adaptá-lo as novas gerações. Mesmos nas mídias artísticas mais modernas como o cinema, ou inclusive os videogames, essa criação de novos mitos continua a ser feita. E eu mesmo estou criando os meus próprios “mitos gregos” com Nova Hélade. =)