Pankration

Hércules contra Ajax

O pancrácio é um dos temas abordados no primeiro arco de histórias de Nova Hélade. Trata-se de uma das mais antigas lutas gregas, uma mistura de boxe com luta livre, com golpes e técnicas de lutas que incluem socos, chutes, estrangulamentos, agarramentos e imobilizações. Em suma, as únicas coisas proibidas no pancrácio eram morder, arranhar, golpear os olhos ou a genitália do adversário (pelo menos isso!). As lutas não possuíam limite de tempo, e só acabavam quando um dos lutadores se rendia, ou como não era raro acontecer, morria. Mas mesmo sendo uma luta incrivelmente brutal e violenta, o pancrácio era uma das modalidades esportivas que compunham as olimpíadas na Grécia antiga, e segundos relatos, era o esporte de maior prestígio entre os helenos.

Ânfora panatenaicaO termo pancrácio vem do grego pankration (Παγκράτιον) e significa “poderes totais” ou “todo poderoso”. O pancrata seria então alguém forte, invencível, poderoso. Não por acaso, a origem mitológica da luta diz que ela foi criada por Hércules (no entanto há uma outra versão do mito que diz que o pancrácio foi criado por Teseu). Há relatos que contam que os antigos pancratas costumavam treinar suas técnicas de estrangulamento com leões. Possivelmente teria surgido daí o mito do primeiro trabalho de Hércules, na qual ele derrota o Leão da Neméia que possuía uma pelagem que o tornava invulnerável.

É muito comum em histórias de ficção científica cyberpunk, até mesmo por uma certa influência que ela sofreu da cultura japonesa (como fica bem claro em autores como William Gibson), possuir um ou outro personagem hábil em artes marciais (mesmo que seja através de implantes cibernéticos e coisas do tipo). E eu queria que os protagonistas de Nova Hélade também tivessem essa característica. De início eu pretendia que Hércules, Teseu e Ájax lutassem kung-fu, ou alguma arte marcial oriental. Mas logo desisti da idéia, pois isso iria ficar completamente deslocado da ambientação da história. Foi aí que pesquisando eu descobri o pancrácio, e ele se encaixou perfeitamente no propósito da história, ainda mais se levarmos em consideração a origem mitológica da luta, como eu citei anteriormente.

Na Mega-Polis de Atenas, o pancrácio, no entanto, é uma luta ilegal. Foi proibida pelo prefeito Egeu devido as pressões dos grupos conservadores da cidade por ser extremamente violenta, e segundo eles, ser uma má influência para a juventude. Mas isso não impediu que as lutas de pancrácio continuassem a ser realizada secretamente no submundo de Atenas, para a diversão dos ricos apostadores da cidade. E o prefeito Egeu mal sabe que um dos principais lutadores de pancrácio é o seu filho Teseu, e seu amigo Hércules.

Como o pancrácio, assim como os outros esportes olímpicos, era disputado pelos seus atletas completamente pelados, a minha idéia inicial era fazer com que cena inicial de Nova Hélade, onde Hércules e Ájax se enfrentam, eles também estivessem nus. Mas aí acabei desistindo da idéia, por um medo, até mesmo bobo, de que muitas pessoas rejeitassem a hq só porque ela tem dois homens pelados lutando. Então pedi pro desenhista colocar uma tanguinha neles. Mas talvez mais pra frente na trama ainda vejamos uma luta de pancrácio como ela era realizada nos tempos antigos. =)

Para mais informações sobre o pancrácio, e sobre as olimpíadas antigas, visitem estes sites:

A Megapolis de Atenas

Atenas Cyberpunk

Atenas é uma típica cidade . Ela possui uma incrível extensão territorial, mas isso não impede que ela seja superpopulosa. Isso obviamente faz com que Atenas seja uma cidade com grandes problemas de transporte, habitação e poluição.

Atenas é uma república democrática. Ou pelo menos na teoria. Pouco a pouco o Estado está perdendo forças para as megacorporações. Muitos dos serviços públicos estão privatizados, e os que ainda não estão, já foram iniciado os processos de privatização deles. Os sistemas públicos estão cada vez mais sucateados, fazendo com que o acesso à saúde, educação, saneamento, segurança e outros bens vitais sejam apenas para aqueles que possam pagar por eles.

As corporações tendem a garantir todos os benefícios aos seus funcionários. O exemplo disso é a construção por parte das corporações mais ricas de arqui-sedes, que são gigantescos arranha-céus, também chamados de habitates corporativos, nos quais escritórios, residências, escolas, lojas e até mesmo parques estão integrados sob um único teto. São verdadeiras “cidades” existindo dentro da cidade de Atenas.

Para aqueles que pertencem ao mundo corporativo, as megacorporações são “senhores feudais” que os protegem dos “bárbaros incivilizados” de fora. Já para aqueles que estão “trancados” do lado de fora, as corporações são tiranos que esmagam tudo que vêem pela frente a serviço unicamente do capital.

Onde o poder do Estado não chega, alguém certamente ocupa o seu lugar. E para aqueles lugares de Atenas onde seus habitantes vivem a margem do sistema, o poder do Estado é exercido por gangues, traficantes, ou grupos de guerrilhas. Poder esse que é exercido através da intimidação e agressão. Isso faz com que a cidade seja palco de freqüentes conflitos sociais. Ataques terroristas são extremamente freqüentes, sejam eles físicos, ou apenas psicológicos.

O Estado não faz muito em relação a essa situação de violência e caos urbano que se alastra cada vez mais. Até mesmo porque a polícia, que também está sendo sucateada, possui uma infraestrutura desestabilizada para enfrentar o arsenal que está nas mãos das gangues e do crime organizado. Isso faz com que ocorram freqüentes greves por parte dos policiais. Já as megacorporações costumam manter grupos paramilitares bem equipados para protegerem seus interesses. Muito policias inclusive, abandonam seus empregos sofríveis, com baixos salários, onde nunca se sabe como será o dia de amanhã, por um emprego como segurança nas corporações, onde eles podem contar com bons salários e uma vida estabilizada para eles e suas famílias, mesmo que a custa de certas liberdades e direitos civis.

O que se pode perceber, é que Atenas é na verdade uma cidade desigual, que um dia já foi conhecida em toda Hélade como a polis das artes e ciências, mas que agora está em um declínio cultural e social que se agrava a cada dia.

Fantasia Cyberpunk

Mega Polis de Atenas

Nova Hélade é uma história em quadrinhos que comecei a escrever há mais de 10 anos atrás. Já estou trabalhando há tanto tempo em Nova Hélade, que seu cenário se tornou, modéstia à parte, incrivelmente rico e detalhado. Aliás, Nova Hélade começou simplesmente como um cenário. Eu não tinha nenhuma história em mente quando o criei. Mania de rpgista de pensar primeiro no cenário pra depois pensar na história. Inclusive, algum dia ainda quero ver se publico um de Nova Hélade (mas antes é claro, eu tenho que conseguir publicar ao menos o primeiro arco de histórias).

Aliás, a idéia do cenário de Nova Hélade partiu de um RPG. Na época eu costumava jogar muito , que é um RPG cujo cenário é uma mistura de e . Nele você podia ter personagens como um elfo hacker que solta magia e possui implantes cibernéticos (doideira, não?). Então eu comecei a criar um cenário baseado em ShadowRun, mas que ao invés de utilizar os elementos da mitologia nórdica, utiliza-se os elementos da mitologia grega, pois eu sempre curti mais essa última, principalmente porque o primeiro livro que eu li na vida foi Os Doze Trabalhos de Hércules do . A idéia do cenário seria então substituir figuras nórdicas como elfos, anões e fadas por figuras helenas como centauros, sátiros e ninfas. A partir disso, comecei a pensar em novas roupagens pros deuses, heróis, e demais figuras mitológicas gregas. Como seria , o mensageiro dos deuses, em um mundo dominado pela tecnologia da informação? – perguntas como essas começaram a pulular pela minha mente. E conforme eu fui respondendo-as, um universo inteiro estava sendo construído.

Certo, eu tinha um cenário, mas ainda não tinha uma história. E como minha idéia principal é fazer uma HQ, de nada adiantava um belo cenário sem uma boa história. Então pensei em quem poderia ser meu personagem principal. E a resposta veio rapidamente; . Não só porque é um dos meus heróis gregos favoritos (justamente pelo livro do Lobato), mas também porque o seu mito é um dos mais conhecidos, então seria fácil para o público leitor se identificar com ele, e assim adentrar ao universo de Nova Hélade.

Mas a história de Hércules não é única que pretendo abordar. Através da história dele, diversas outras histórias paralelas serão contadas. Aliás, como eu já disse, o universo de Nova Hélade é tão grande, que minha idéia é transformá-lo em “open source” através da licença Creative Commons, como fiz com o Homem-Grilo, e permitir que qualquer um o utilize para criar novas histórias. Ver Nova Hélade sobrevivendo além de mim será uma grande felicidade e uma recompensa por tantos anos de trabalho. Mas por enquanto isso é apenas um sonho, há ainda muito trabalho pela frente para que ele se torne realidade.

Então, de volta ao caderno de rascunhos. =)

Admirável Mundo Novo

Bem vindo a um admirável mundo novo. Um mundo de deuses e titãs, de heróis e monstros, onde os mitos são verdadeiros e as lendas ainda estão vivas. Um mundo onde magia e tecnologia convivem lado a lado. Um mundo diferente do nosso, mas ao mesmo tempo tão igual.

No alto do Monte Olimpo, os deuses observam a maior superpotência desse mundo. Aquela que chamam simplesmente de Hélade. Se os helenos chegaram aonde chegaram, muito se deve a atual tecnologia, que permitiu que eles construíssem aquela que são o coração da Hélade, as megapoleis. Imensas fortalezas de vidro e concreto, elas são verdadeiras cidades-estados.

Cada megapolis possui seu próprio governo, que pode variar muito, desde uma república democrata, como é o caso de Atenas, até uma tirania militar, como é em Esparta. Mas todo bom cidadão heleno sabe que quem realmente governa nas cidades são as megacorporações.

Sim! São as megacorporações que dão as cartas por aqui! Tudo é de certa forma controlada por elas. São as corporações que definem se você está dentro ou fora do sistema, e levando em considerações algumas delas, é muito melhor você estar fora. E não são poucos os que pensam assim. Grupos marginais proliferam-se aos montes pelas cidades. Gangues de rua, traficantes, ecoterroristas, mercenários e muito mais. Não é á toa que a policia sai para as ruas como se estivesse indo para uma guerra, pois de certa forma realmente está.

Este mundo também está cheio de personalidades notáveis. Podemos citar, por exemplo, o pequeno Hércules, um grande lutador de pancrácio, apesar de possuir apenas 1,66 de estatura, e que é capaz de derrubar o mais alto dos gigantes, e isso sem ajuda de nenhum implante cibernético. Ou quem sabe Perseu, um dos poucos hackers capazes de enfrentar uma Medusa, o mais perigoso daemon, que são programas de defesa do Elysion, o ciberespaço. Temos também Orfeu, o maior guitarrista de blues que esse mundo já viu, apesar de muitos afirmarem que ele vendeu a alma ao próprio Hades para conseguir a fama e o sucesso que tem.

Mas como eu disse, este também é um mundo de deuses. Eles existem aos montes, vivendo no céu, na água, na terra ou abaixo dela! Apesar de eu ter dito que as corporações controlam tudo, eu só estava errado em uma única coisa, elas não controlam os deuses. Mas hoje em dia é cada vez menor o número de pessoas que adoram as divindades, mesmo sabendo que elas são extremamente vingativas.

Muitos dos Olimpianos sofreram modificações através dos tempos, mas nenhum deles mudou tanto quanto Hermes. Em um mundo onde informação é o bem mais precioso, o antigo mensageiro dos deuses cresceu em poder e agora é adorado como o deus da informática e telecomunicações. Claro que isso não deixou Zeus nada contente, pois o deus dos deuses pode correr o sério rico de perder sua posição para seu ex-mensageiro.

Os deuses campestres foram certamente os que mais decaíram em poder. é um bom exemplo disso. Ele agora só é adorado por alguns poucos ecoguerrilheiros que se autointitulam Filhos de Gaia. Dionísio é outro que também decaiu muito em poder. E nem o fato de ter mudado os seus domínios do vinho para a cerveja adiantou muito. Boatos dizem que ele pode ser visto perambulando bêbado pelos bares no bairro dos sátiros em Atenas.

Outro imortal de destaque é Moros, o programador do destino. Neste exato momento ele está compilando na máquina do mundo algumas linhas do código-fonte de seu programa. Programa este que é alimentado com os dados que estão armazenados no Oráculo de Delfos versão 4.2, o banco de dados inteligente que tudo sabe, tudo armazena.

E não podemos deixar de citar Tânatos, o mais ativo dos imortais. Afinal de contas, este é um mundo extremamente violento e sanguinário, e trabalho é o que não falta para o “ceifador de vidas”. E não pense que Tânatos está feliz com isso, pois com tanta gente pra levar pro Hades, ele quase nunca tem tempo de ensaiar com a sua banda de death metal.

Bem, como vocês podem ver, este não é um mundo fácil para se viver. Aqui as coisas são muitas vezes caóticas e cruéis. Quando a situação apertar, de nada lhe servirá os preceitos antigos como “conheça a ti mesmo” e “nada em demasia”. Se você quer realmente sobreviver neste mundo, então siga meus conselhos; não confie em ninguém, mantenha sua arma sempre a mão, e nunca, nunca mesmo, irrite nenhum deus!